
Zanvettor é sociólogo e pintor e segue a tradição dos pintores que no século passado saiam para as ruas registrando em telas o cotidiano da cidade.
O tempo deixa marcas, resíduos de lembranças e as cidades são espaços ricos desses fragmentos de sobras de materiais que, quando juntos e colados, ganham novo significado e ativam sentimentos. São pedaços de tecidos, jornais com suas manchetes, revistas coloridas em bom papel, postais entre outros.
O trabalho do artista começa com a escolha e seleção do material que espalhados sobre a tela branca ganham destaque a diferentes texturas e cores. A tinta e o pincel seguem preenchendo espaços, destacando texturas e contornos, enquanto a técnica da forma ao sentimento.
Gilmar Candeias (cineasta)
O pensador francês Michel de Certeau (1926-1986) entendia que a produção de mercadorias não é unilateral. A ela “corresponde outra produção, qualificada de ‘consumo’, astuciosa e dispersa” que reconfigura os sentidos originais ao transitar do produto para o modo de empregá-lo. Partindo da colagem de papéis, tecidos e anúncios (produzidos e já descartados), sobrepondo texturas e preenchendo os espaços vazios com cores quase sempre primárias, Zanvettor cria figuras humanas, objetos e paisagens. Do material ele extrai o imaterial. Do banal emerge o transcendente. Assim como idealizou Certeau, Zanvettor não é apenas um artista – é também um inventor do cotidiano.
Evandro Piccino (publicitário e historiador)