Bairro Belenzinho - São Paulo - SP

Martins de Porangaba

Coerência do fazer
Em novembro de 1987, Martins de Porangaba realizava importante exposição na Galeria Paulo Prado, uma das principais da capital paulistana, tendo o circo como assunto unificador. Em 2010, 23 anos depois, portanto, mostra, na Bel Galeria de Arte, o conjunto “O lobisomem e a donzela”.

O interessante é que, apesar da distancia cronológica dessas duas exposições, existe a manutenção de uma coerência do fazer que pode ser observada nos conjuntos apresentados. Embora o primeiro seja com têmpera e o segundo com tinta acrílica, ambos mantêm um tópico muito importante a fidelidade ao princípio do equilíbrio.

Os orientais dizem que a composição é o “osso do quadro, metáfora para mostrar como a estruturação das imagens presentes em cada tela constitui um elemento essencial no resultado oferecido ao público. Os trabalhos de Porangaba, ao lidar com o desenho como ponto de partida, caminham justamente nessa direção.Muito mais que um colorista, está-se defronte de um pintor que devota anos de seu pensamento e da sua carreira a encontrar a maneira mais adequada de colocar as formas que deseja na superfície do quadro. Isso significa que mais relevante do que o tema selecionado é o como isso ganha materialidade.
Seja uma paisagem, retrato, natureza-morta, composições com figuras, a série como Macunaíma como mote ou os mencionados o circo ou o lobisomem e a donzela, o que está em jogo não é o assunto. A obra do artista se sustenta principalmente pela maneira de utilizar as curvaturas das linhas para alcançar o que deseja.
O que isso significa? Acima de tido, o respeito pela arte como um processo de lidar com as figuras para atingir o olhar do observador sempre com uma porção de mistério e, acima de tudo, com a verdade que brota de um procedimento de pesquisa visual que o acompanha desde o começo da carreira.
Nas mais de duas décadas que acompanham as exposições mencionadas, Martins de Porangaba mantém fidelidade a si mesmo. Em meio às alterações de mercado, técnica e de conceito, o artista paulista conserva sua autenticidade e verdade interna, regida pelo poder do desenho e da composição.

Oscar D’Ambrosio, doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).