Bairro Belenzinho - São Paulo - SP

Silvio Melo

Obra pictórica desenvolvida em uma trajetória de longa data, de grande aprimoramento artístico, como a pedra preciosa que foi sendo lapidada e que agora revela toda a sua beleza. Eis o trabalho de Silvio Melo. Figurativa na sua origem, mas que flerta com o abstracionismo na leveza de suas massas coloridas e nas composições. Sua fonte é rica, seguindo o caminho aberto pelos pintores paulistanos da primeira metade do século XX, sobretudo os do Grupo Santa Helena, como Zanini, Bonadei e Volpi, entre outros. Na década de 1970, Sílvio juntou-se aos artistas que se reuniram no ateliê de Martins de Porangaba e deste recebeu os alicerces do trabalho artístico, em um convívio que lhe abriu os horizontes e o caminho que veio a trilhar nos anos seguintes.

O intenso aprendizado incluiu sessões de modelo vivo, a observação do cotidiano, as paisagens dos bairros fabris da Zona Leste de São Paulo e os retratos de pessoas próximas, que moldaram a temática dos primeiros trabalhos de Silvio Melo.

Desses estudos, os quais já demonstravam a beleza e a força de sua criação, aflorou uma obra de enorme qualidade e domínio técnico, a ponto do artista poder alçar outros voos, de liberar a composição, a forma e a cor. Não há limites ao seu trabalho, exceto o próprio suporte. Dentro do mesmo, Silvio Melo elabora a sua composição, através do traçado simples e com a leveza permitida a todo grande artista. Em um de seus temas favoritos, a figura feminina, a mesma parece impulsionar o uso do espaço pictórico, tanto na proporção anatômica, como no rosto esboçado com linhas precisas a partir da percepção sútil do artista. Ao final, Silvio nos presenteia com belíssimas imagens que encantam o olhar, enriquecido ainda por um rico colorido, advindo de seu enorme repertório de tons.

Mais recentemente, o trabalho de Silvio Melo tomou como ponto de partida algumas releituras, como a obra de Leonardo da Vinci, o qual também fez do desenho a base de suas grandes criações e projetos. Silvio tomou tais referências, as adequou à sua composição e ao seu estilo, permitindo transcender o grande mestre renascentista. Como dizem os mais antigos, o grande artista é aquele que inspira, sobretudo a outros artistas.

A formação adquirida no trabalho artístico não é algo estático, mas que se transforma dentro das infinitas possibilidades do processo de criação. Por isso a arte não se repete, pelo contrário, se renova, suprindo-se daquilo que há de melhor nas grandes escolas e nos seus artistas. Nesse ambiente fértil podemos situar o trabalho de Sílvio Melo. Na sua plenitude como desenhista e pintor, ele apresenta uma obra que revela toda a capacidade de realização dos grandes mestres. Para o bem da arte, sua trajetória será longa e o seu talento lhe permitirá percorrer novos caminhos por meio de seu estilo pessoal, estabelecido em anos de trabalho e amadurecimento. Silvio Melo insere-se num grupo absolutamente seleto e infelizmente pequeno de pintores contemporâneos. Exatamente por isso, devemos dar vazão ao nosso gosto estético para apreciar suas criações, pois como se sabe, a vida é breve…

José Jonas Almeida
Doutor em história pela Universidade de São Paulo